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Gargântua e Pantagruel e a Lei

introdução

Antes de Aleister Crowley e da revelação do Liber AL vel Legis, a expressão “Faze o que tu queres” já havia sido escrita em letras grandes na entrada de uma abadia literária: a Abadia de Thélème. Seu autor foi François Rabelais, humanista e médico francês do Renascimento, cuja obra Gargântua e Pantagruel misturava crítica social, erudição clássica e um humor desbragado.

Neste post, exploramos a relevância dessa obra para o pensamento thelêmico, o simbolismo da abadia, o sentido da famosa frase e os aspectos que vão além da comédia escatológica.

Onde aparece a Lei de Thelema?

No Livro I de Gargântua, especificamente nos capítulos 52 a 57, Rabelais descreve uma abadia fora dos padrões monásticos da época: a Abadia de Thélème. Ao contrário dos votos de pobreza, castidade e obediência, os moradores dessa abadia viviam sob uma única regra:

“Fay ce que vouldras”
(Faze o que tu queres)

Esse lema aparece inscrito na entrada da abadia, como um axioma espiritual e filosófico.

François Rabelais: muito além da comédia

Rabelais (1494–1553) foi um erudito, médico, ex-monge e um dos grandes nomes do Renascimento francês. Seu estilo irreverente e iconoclasta misturava:

  • Satira política e religiosa

  • Linguagem grotesca e escatológica

  • Conhecimento profundo de medicina, direito, teologia e literatura clássica

A obra foi durante séculos lida como paródia antieclesiástica, mas também é interpretada como uma utopia esotérica codificada, cheia de simbolismo hermético e influências neoplatônicas. A abadia de Thélème pode ser lida como um arquétipo do templo interior do iniciado: um espaço onde a Vontade verdadeira se realiza sem coerção externa.

A utopia de Thélème e seu simbolismo

A descrição da abadia subverte as ordens monásticas tradicionais:

  • Homens e mulheres vivem juntos

  • Não há horários obrigatórios

  • Veste-se com elegância, pratica-se música, poesia e o saber

  • A liberdade é a regra

A proposta de Rabelais era oculta, porém clara: quando livres, os homens virtuosos não se desviam, mas se aperfeiçoam. Assim, a Lei de Thélème não era um convite ao hedonismo irresponsável, mas à realização da natureza interior autêntica de cada um.

Da utopia literária à Lei revelada

Mais de três séculos depois, Aleister Crowley retoma literalmente o lema de Rabelais e o transforma no primeiro versículo do Liber AL vel Legis:

“Faze o que tu queres será o todo da Lei.”

O resgate de Rabelais por Crowley não foi acidental. A abadia de Thélème, com seu ideal de liberdades espirituais, se converte em protoparábola thelêmica.

Gargântua e Pantagruel é muito mais do que um livro cômico. Sua abadia utópica, onde cada um vive segundo sua Vontade, plantou a semente da Lei de Thelema em solo literário e filosófico. Ao recuperar Rabelais, Crowley não apenas prestou homenagem à liberdade, mas reconheceu um elo oculto entre o Renascimento e o nascimento de uma nova Era.

Por: Frater ABRAXAS

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